Imagine que você acordou num mundo sem energia elétrica, sem internet e sem poder recarregar seu celular: você só pode contar com os últimos 2% de bateria que restam, o que não serviria pra muita coisa. Bem-vindo ao caos da energia elétrica.
Mas acredite: esse seria o menor dos seus problemas. Em pouco tempo as cidades virariam um caos, a economia entraria em colapso, começaria a faltar comida nos mercados e você não faria a menor ideia da repercussão mundial disso tudo, já que não teria acesso à tv ou redes sociais.
Toda essa cena apocalíptica serve pra gente ilustrar, como o uso da energia elétrica é tão presente no nosso dia a dia que o simples ato, de pensar em nossas vidas sem ela já pode nos levar ao caos: nossa dependência é absurda e inegável e com o avanço das tecnologias a tendência é que isso só aumente.
Eu não sei você, mas eu me sinto um completo imbecil inútil quando falta luz. Quando a internet cai por algum motivo já parece que meu computador não serve mais pra nada, paralisa todo meu fluxo de trabalho. Mas é quando falta luz que a coisa complica…
Vou ao banheiro e tento acender a luz, já é algo automático, então eu penso. Vou ler um livro, mas a maioria dos livros que eu estou lendo hoje estão no Kindle, então se ele estiver sem bateria?!.
Bom, então só me resta fazer um café e esperar… Bom, aí vem mais problemas. Não foi nem uma, nem duas vezes que eu coloquei água na jarra elétrica pra fazer café quando tava sem luz, chaleira pro fogão eu nem sequer tenho, mas mesmo que tivesse provavelmente eu iria errar no ponto da água.
É quase como voltar aos tempos medievais, onde cavaleiros viriam a nossa cabeça imediatamente, pois sem energia, não como uma simples bomba de gasolina funcionar.
Mesmo que funcione, você ainda dependeria da energia elétrica pra muitas outras coisas, ligadas a esse simples processo.
Nós já somos extremamente dependentes da eletricidade, e isso não só não vai mudar como é exatamente o contrário, só vai aumentar.
Segundo uma publicação da Agência Internacional de Energia, antes da pandemia a previsão era de que a demanda energética crescesse 12% até 2030.
Agora com a chegada da pandemia essa mesma estimativa caiu com a queda das atividades produtivas, porém mesmo assim segue crescendo.
Enquanto a demanda de energia cresce, a pressão pra migrar de energias fósseis pra energias consideradas limpas e renováveis aumenta, o que cria um cenário ainda mais desafiador: produzir mais energia e substituir o que está funcionando.
E liderando o crescimento do setor de energias renováveis temos a energia solar. Estudos indicam que até 2030, ela será a fonte de energia em maior expansão, e isso está diretamente relacionado com a queda nos custos pra implantação.
Com a evolução tecnológica na última década, o custo da energia fotovoltaica caiu muito, além de uma série de incentivos que vem sendo dado globalmente, o que consequentemente resultou em uma maior adesão.
O problema é que mesmo assim painéis solares em telhados de casas não são suficientes pra suprir a demanda de energia elétrica de um bairro ou cidade, por exemplo, muito menos a demanda global.
Então a grande pergunta é: como usar a energia solar pra gerar eletricidade o suficiente e abastecer cidades inteiras?
Uma das alternativas são as fazendas solares, e é justamente sobre elas que vamos falar agora. Por muitos séculos venerado como um Deus, novamente os humanos se voltam ao Sol em busca de poder. Dessa vez, com objetivos um pouco mais práticos: abastecer nossas casas e equipamentos.
Nos últimos anos, o número de pessoas que decidem apostar nele pra garantir uma espécie de autossuficiência energética vem crescendo.
Visando produzir pra consumir, pessoas e empresas estão instalando painéis solares em seus telhados.
Dessa forma, os raios solares são captados e transformados em energia elétrica pra usar no dia a dia — e quando o dono da instalação produz mais do que consome, o excedente é lançado na rede elétrica e retorna em forma de crédito para produtor.
Aqueles que investem nessa tecnologia podem economizar até 99% na conta de luz usando a geração fotovoltaica. E o bolso foi um dos principais motivos pelo qual a capacidade de energia solar no Brasil cresceu 60% entre 2019 e 2020, segundo o portal de notícias GHZ.
Os brasileiros dispostos a aproveitar a oportunidade e explorar um recurso tão abundante no nosso país já apostam na energia solar como principal aliada pra diminuir a conta de luz de suas fazendas.
Os custos envolvidos na implementação do sistema são um ponto que costuma deixar os produtores com um pé atrás. Isso porque embora os painéis solares tragam um bom retorno a médio e longo prazo, o investimento inicial é caro.
O custo total de um projeto residencial simples, pra instalar energia fotovoltaica gira em torno dos 16 mil reais, incluindo projeto, mão de obra, instalação e equipamentos. Em projetos mais robustos, esse investimento pode passar facilmente de 100 mil reais.
Mas no cenário atual, onde a energia elétrica no Brasil é atualmente uma das mais caras do mundo, e a taxa de juros está no ponto mais baixo desde os anos 90.
O investimento parece fazer sentido tanto pra quem vai financiar quanto pra quem vai pagar a vista, já que de um lado os juros do parcelamento é baixo e do outro o retorno do capital investido em renda fixa não é mais o paraíso de alguns anos atrás.
Embora isso de conta da necessidade elétrica para o consumo próprio, ainda está longe de ser o suficiente como um sistema de geração de energia pra abastecer cidades inteiras com casas, indústrias e comércios.
Mas pra ajudar nisso, uma nova solução está surgindo: grandes áreas de terra com painéis solares instalados, criando uma fazenda com painéis, ao invés de plantas: as fazendas solares.
E o mais curioso é que alguns fazendeiros perceberam que podem lucrar muito mais, com menos trabalho, menos funcionários, menos maquinário e menos insumos.
As fazendas solares surgiram na Alemanha na década de 90, quando alguns fazendeiros instalaram painéis fotovoltaicos em lugares que antes eram destinados à plantação.
O tamanho das propriedades e a amplitude das instalações de painéis permitiram uma grande produção de energia, suficiente pra abastecer a fazenda e ainda sobrar.
Eles podiam vender o excedente de energia pras distribuidoras (facilidade não permitida aqui no Brasil) e logo ficaram conhecidos como fazendeiros solares.
Mais do que gerar economia na conta de luz das fazendas. Os painéis podem trazer um retorno financeiro muito maior do que com o cultivo de qualquer espécie de plantas.
Além da facilidade de lidar com um negócio mais previsível e com menos hipóteses de sofrer com problemas climáticos, como enchentes e secas.
Segundo o The Washington Post, em Illinois nos Estados Unidos, centenas de agricultores se candidataram pra hospedar painéis solares em suas propriedades.
Um movimento incentivado pela lei estadual exige que as fontes renováveis forneçam 1/4 da energia da cidade até 2025.
No Brasil o caminho é um tanto contraditório e polemico, mas de modo geral caminhamos exatamente ao contrário dessa direção com a nova Medida Provisória. O caos da energia elétrica não é só porque não há energia, mas sim a ganância entre no jogo também.
Apenas como titulo de curiosidade, temos a forma de produção de energia elétrica, praticamente sendo uma das mais baratas do mundo.
Os agricultores sentem a necessidade de ter outras fontes de renda além da agricultura, justamente por conta da imprevisibilidade das colheitas. Ninguém regula o clima, pelo menos por enquanto.
Um dos fazendeiros que resolveu investir na novidade. Sempre temos pessoas na vanguarda. Antes cultivava milho e soja em seus 2600 hectares de terra. Descobriu que “plantando” energia ganharia três vezes mais do que com uma colheita média.
Em 2018, nos EUA, o preço da soja e do arroz estavam muito abaixo das projeções daquele ano, o que é atribuído às disputas do então presidente americano, Donald Trump, com o governo chinês.
Foi nesse cenário que outros fazendeiros resolveram ir atrás de uma fonte de renda maior e mais estável e a energia solar pareceu uma boa aposta: o fazendeiro contou ao Washington Post que mesmo em um dia com muitas nuvens e pouco sol os painéis continuam gerando eletricidade.
A geração fotovoltaica é mais previsível, dá mais segurança financeira para os fazendeiros, diminui os gastos com energia elétrica e o trabalho com os painéis nem se compara com o esforço pra cultivar frutas e verduras, por isso a “novidade” tem sido muito bem vista pelos agricultores.
Mas o que pode soar estranho é que apesar de todos os benefícios que a energia solar traz, a tendência de substituir o cultivo por painéis solares pode ter consequências indesejadas às terras.
Isso porque em um cenário onde a população mundial está crescendo e aumentando o seu poder de compra, a demanda por alimento também cresce, então destinar terras férteis pra colocar painéis solares parece contra produtivo.
Por outro lado, cresce também a demanda por energia. Afinal não podemos mais viver sem ela, experimente ficar algumas poucas horas, sem energia e você saberá do que estamos falando.
Eu preciso deixar claro que as fazendas solares não vão substituir as imensas produções de soja ou de grãos. Em geral, o grande empresário agro com capacidade de investir em tecnologia de ponta consegue produzir alimento a um custo baixo e com bom lucro.
Justamente o pequeno e médio produtor que vem sendo espremido pra fora desse mercado e venda na produção de energia alternativa. Paradoxalmente parte do caos da energia elétrica está relacionada diretamente a esse tema.
Pra não desperdiçar a capacidade produtiva da terra e ainda aumentar a produtividade é que justamente esses pequenos e médios produtores estão desenvolvendo soluções criativas de misturar a produção de energia à produção de alimentos.
Foi assim que surgiram os sistemas agrovoltaicos: uma solução perfeita pra unir agricultura e geração de energia. No modelo agrovoltaico, os painéis solares são construídos acima das plantações, assim o fazendeiro não precisa escolher entre cultivar verduras ou comercializar a energia do sol: ele pode fazer os dois — e eles funcionam muito melhor juntos.
A ideia surgiu quando se percebeu que o calor acumulado abaixo dos painéis solares tornava eles menos eficientes, foi quando ele imaginou que cultivar plantas abaixo dos painéis ali poderia resolver esse problema.
Redondamente certos e a transpiração dos vegetais deu a seu jardim agrovoltaico um clima mais frio do que os das fazendas solares tradicionais.
Ele logo ele descobriu que os painéis produziam mais energia justamente durante a temporada de cultivo. O experimento também mostrou que a geração fotovoltaica não é a única que sai ganhando.
Como nesse modelo, os painéis são construídos acima da vegetação, as plantas não recebem luz solar diretamente. Isso faz com que elas retenham mais água e por mais tempo, diminuindo a necessidade de irrigação, interessante não?!
Outra coisa curiosa que agrada os agricultores é como as plantas crescem: além de se adaptarem com folhas maiores e crescimento horizontal na busca pelo Sol, a maior retenção de umidade faz com que elas fiquem menos estressadas quando cultivadas embaixo de painéis solares.
Descobriu-se que a produção de tomate dobrou e que a de pimenta triplicou. É como se os painéis solares devolvessem o favor pras plantas e tudo isso acaba gerando um sistema ainda mais sustentável onde o sol é aproveitado duas vezes, a água é poupada e a vegetação se desenvolve melhor.
Claro que essa dinâmica não funciona em todos os lugares, nem com toda especie de planta, mas nem precisa: segundo pesquisadores da Oregon State University, se apenas 1% das terras agrícolas do mundo possuíssem painéis solares, já seria o suficiente para suprir toda a demanda global de eletricidade.
Isso reforça que além de minimizarmos esse caos da energia elétrica, podemos seguir mais confiantes em futuro menos sombrio.
Outro estudo também da OSU mostrou que uma instalação de sistemas agrovoltaicos em larga escala poderiam reduzir as emissões de dióxido de carbono em até 330 mil toneladas por ano nos EUA — o que equivaleria a 75 mil carros fora das estradas.
Os sistemas agrovoltaicos oferecem uma perspectiva incrível do futuro, unindo energia sustentável, alimentos em abundância e economia de água: um conjunto que tem agradado muita gente, e criado oportunidade de negócios para outros tantos.
Mas como acontece com qualquer tecnologia inovadora, ainda existem desafios que precisam ser superados. Plantações como a de algodão ou milho, que necessitam de pulverização aérea.
São incompatíveis com sistemas desse tipo e algumas plantas não se desenvolvem bem quando são cultivadas na sombra.
O milho, por exemplo, sofreu desaceleração no crescimento e apresentou taxa de fotossíntese mais baixa que o comum.
Pesquisadores estão buscando entender quais plantas se comportam melhor quando cultivadas sob painéis e quais não se dão muito bem.
Além disso, um conjunto de políticas públicas com incentivos fiscais tem ajudado produtores na implantação de sistemas agrovoltaicos.
A grande pergunta que fica é: será que as fazendas solares, sejam as tradicionais ou agrovoltaicos, serão as soluções do futuro pra geração de energia?
Bom, essa resposta eu não tenho como te dar, mas de fato é um negócio muito interessante.
Eu mesmo fui ficando cada vez mais interessado conforme fui conduzindo essa matéria. Principalmente porque o pequeno produtor tem muita dificuldade de competir com o grande produtor.
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Texto traz a luz para várias questões ligadas ao assunto, esclarecedor!
Obrigado.
Olá vc é o mesmo dono do Canal Elementar, gostei muito do conteúdo, e desejo utilizar ele como uma das fontes para meu TCC, eu não sei se vou poder utilizar pois esse site é um blog, apesar de ser de uma empresa, mais ao fazer a citação desse conteúdo ficaria perfeito a compreensão da minha ideia do meu TCC, vi outra publicação nesse outro site, vc também é dono dessa mesma empresa, link: https://redumax.com.br/2021/07/15/por-que-as-fazendas-solares-estao-substituindo-plantacoes-tradicionais/
Se for o mesmo ficaria melhor eu utilizar o site dela como citação para dar os créditos ao dono da matéria.
Olá Wender,
Legal que tenha gostado do conteúdo. Não, eu não sou o responsável pelo canal Elementar, mas conheço o pessoal de lá. Nós temos o nosso próprio canal e estamos evoluindo ;) -- https://www.youtube.com/@imperiosolar
Também não conhecemos o responsável/dono do site que você citou.
Fique a vontade em usar o conteúdo do nosso site, inclusive citando a origem da matéria.